sexta-feira, 22 de maio de 2009

Legislando em causa própria...

Olha que bacana essa matéria....ela foi produzida por um estudante do curso de Jornalismo da UFSC... e fora o fato de eu me identificar com a pauta, também me interessei pelo jornal online ( http://www.cotidiano.ufsc.br) produzido pelos alunos de lá, que poderia ser adotado pelos alunos de cá....

A formosura e a gordura
Jessé Torres

Vênus de Milo. Ícone de beleza Por Shawn Lipowski/Wikimedia Commons


Os padrões estéticos do corpo feminino sofreram radicais transformações ao longo da História, substancialmente na Era Moderna. Até o século XIX, a mulher era vista com fins de reprodução. As ancas largas, o espartilho e os seios fartos da amamentação davam-lhes a conhecida “silhueta em S”.

Em seu primeiro número, a revista Ilustração Portugueza trazia a foto de uma mulher rechonchuda com a legenda “a mais linda corista dos theatros de Lisbôa”. Nesta mesma publicação, anúncios de tônicos para engordar ocupavam cerca de 35% do espaço publicitário. A aparência rechonchuda reafirmava o papel de mãe e de esposa passiva, destinada a procriar e cuidar dos filhos. O medo de contrair tuberculose também contribuía para o culto de corpos verdadeiramente redondos, que assim estariam imunes. Gordura e formosura associavam-se.
Havia grande valorização do leite na alimentação infantil, e a principal causa de morte da época eram as decorrentes de problemas gastrintestinais. A chamada hominicultura questionava que, se era possível fazer crescerem repolhos gigantescos, também seria possível fazer crescerem “super-bebês” – um discurso que foi alvo de muitas críticas.
Mudanças de padrões

A esbelteza e as formas harmoniosas do padrão greco-romano passam a ser mais valorizadas com o passar do tempo. Não se tratava de fazer das mulheres desportistas – algo, na época, reservado apenas a homens –, mas aptas a agradar a seus maridos. Havia esportes destinados especialmente às mulheres. O belo passa a ser ligado ao bem-estar físico, impulsionado também pela expansão da indústria cosmética. Passa-se mais tempo em contato com ambientes externos.
Quando as mulheres começam a entrar timidamente no mercado de trabalho, na Primeira Guerra Mundial, outro tipo de corpo e de vestuário se faz necessário. Surge o tailleur, o terno feminino. Coco Chanel revoluciona o modo de vestir feminino. A mulher que trabalha tem de conseguir se movimentar. Surgem as formas mais masculinas, os cabelos “à Joãozinho”, os penteados práticos à la garçonne. Muitos críticos da estética que se instaurava diziam que o estilo cada vez mais masculinizado era nada menos que uma doença altamente contagiosa que se espalhava entre as moças, a “garçonnite”.

Os novos cortes e penteados quebravam a tradição da feminilidade dos cabelos compridos e confundiam totalmente as identidades sexuais tradicionais. Houve grande retorno, nos rostos masculinos, dos bigodes, das barbas e cavanhaques – numa espécie de reafirmação de sua posição. Os vestidos retos pediam esbelteza. Os novos tempos exigiam que a mulher participasse de eventos sociais, e fosse cada vez mais enérgica. A gordura deixava de ser sinônimo de formosura.O assunto foi tema da palestra "Quando a gordura começou a deixar de ser formosura", de Irene Vaquinhas, professora da Universidade de Coimbra, na aula inaugural da Pós-graduação Interdisciplinar e da Pós-graduação em História da UFSC, na segunda-feira, 9.

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