quarta-feira, 17 de março de 2010

COTIDIANO

VENDENDO ALEGRIA

Dos pomares de maçã para o comércio ambulante de algodão doce, o vendedor Jean Carlos Limeira esbanja talento

Silvia Palma
Para Jornal Folha de Videira
Edição:13/03/2010


O assobio do sorveteiro, as cores do algodão doce e o aroma da pipoca nos carrinhos do ambulante fazem parte do cenário de qualquer cidade. Com ofícios simples, eles ganham a vida nas ruas, de porta em porta, nas saídas de escolas, nas entradas de festas. A maioria ingressou no ofício como alternativa ao desemprego, mas o tempo passa e eles continuam firmes, na luta diária pela sobrevivência. Para chamar a atenção dos fregueses,usam criatividade e alegria ou apelam para as buzinas, garantindo que sejam ouvidos.

Andando por aí, fica fácil perceber a quantidade de pessoas que leva a vida na informalidade, batalhando pelas oportunidades. Diferente do que se poderia imaginar, muitas delas são pessoas animadas, felizes, que aceitaram e superaram suas dificuldades. É o caso do vendedor de algodão doce e maçã do amor, Jean Carlos Limeira, que é morador de Fraiburgo, mas pelo menos uma vez por semana marca presença nas ruas de Videira. “Fiz um cronograma que me leva cada dia para uma cidade da região. Pego o primeiro ônibus do dia e só retorno para casa no último, assim garanto o sustento da família”, conta o simpático vendedor, que fica antenado nos eventos de fim de semana para intensificar as vendas.

TALENTO NATO

Ainda que passando longe das aulas de Administração de Empresas ou Marketing, o vendedor de algodão doce, que só cursou até a 3ª série primária, entende de atendimento ao cliente, possui técnicas de fidelização e manja de planejamento e posicionamento de seu negócio. Atende a todos com educação e um belo sorriso no rosto. “Tanto o algodão doce, quanto a maçã do amor, tem gosto de infância, por isso, dificilmente as crianças resistem. No entanto, para agregar valor ao meu negócio, passei a dar uma máscara de personagens infantis, para quem compra algodão doce. As vendas só cresceram”, conta ele.

A venda do doce que faz parte do imaginário infantil, surgiu na vida de Jean, há cerca de 15 anos. Nos fins de semana, quando tinha folga no trabalho de colheita de maçã, ajudava um amigo a vender algodão doce. Aos poucos foi criando a própria clientela e viu no negócio informal,a chance de escapar do trabalho pesado e cansativo. “Além disso, percebi que poderia ganhar mais do que na colheita e só dependeria do meu esforço. Então criei coragem e optei em ter meu próprio negócio”.

Para incrementar as vendas, durante a visita em um circo, há cerca de 5 anos, Jean fez amizade com vendedores de maçã do amor e em troca ganhou a receita da fruta caramelizada. De lá pra cá também incluiu o produto, no mastro que carrega sobre os ombros e tem contabilizado mais ganhos.

Com a ajuda da mulher, que trabalha em um frigorífico, mas o acompanha nos fins de semana, a família chega a vender cerca 1.200 algodões doce e 800 maçãs do amor, por mês. Os preços variam: durante a semana ele cobra R$ 1,50 para os dois produtos e durante festas e fins de semana, o preço sobe para R$ 2,00. “Não posso reclamar, pois embora seja cansativo, também é compensador. Esse trabalho está me ajudando a manter minha família e a criar meus dois filhos”, diz.

CARGA TRIUTÁRIA ESTIMULA A INFORMALIDADE

Os principais motivos apontados pelos economistas como responsáveis pela crescente taxa da informalidade são a alta carga tributária e a grande competitividade no mercado de trabalho.

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), apenas 46,6% dos trabalhadores estão contratados seguindo as leis trabalhistas. Isso quer dizer que 53,4% não têm acesso aos benefícios essenciais que os contratos com carteira assinada oferecem,como auxílio doença, aposentadoria e férias. Foi pensando nisso que o vendedor de algodão doce começou a planejar o futuro. Ele explica que já deu entrada em um processo para participar do Programa Micro Empreendedor (MEI) Individual, criado no ano passado pelo governo federal. Nele, trabalhadores como Jean, que tem seu meio de vida ainda na clandestinidade e sem poder comercializar seus produtos e serviços junto aos órgãos públicos, vai ganhar uma chance de ficar na legalidade, ter acesso a nota fiscal e melhorar o faturamento. “Pagarei cerca de R$ 51,00 por mês e terei direitos como a aposentadoria e auxílio doença garantidos. É tranqüilidade para mim e para minha família”.


LEGENDA FOTO: Há 15 anos Jean percorre cidades da região vendendo algodão doce

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