sexta-feira, 12 de março de 2010

FRANCISCO KARAN

PRESTES A COMPLETAR 91 ANOS ELE AINDA ESTÁ NA ATIVA
Pioneiro na medicina do Estado, Karam acompanhou a evolução do setor no município

Silvia Palma
Para Jornal Folha de Videira
Edição: 27/02/2010

O especialista em radiologia Francisco Karam é uma das pessoas que viveu o crescimento de Videira. No próximo dia 5 de março, o médico completa 91 anos, de uma vida inteira dedicada à medicina. Mais de meio século, ou seja, 51, desses anos de trabalho foram realizados em Videira. Neste tempo, ele pôde acompanhar os primórdios, a descoberta das vacinas e das novas tecnologias, que hoje permitem um diagnóstico quase perfeito dos pacientes. Reconhecido como uma das mais importantes autoridades médicas do Estado, ele continua trabalhando em seu consultório em Videira, atendendo seus pacientes, que o próprio diz ser sua maior razão de vida. 
O espírito aventureiro foi o principal responsável pela vinda do médico Francisco Karam para as regiões interioranas, num tempo em que não haviam equipamentos de diagnóstico e a vida das pessoas eram colocadas nas mãos do profissional. No ano de 1943 depois de ter concluído a faculdade de Medicina na atual Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS), o quarto filho de um casal de libaneses, com 24 anos de idade, se aventurava por regiões insólitas e desprovidas de qualquer ornamento médico, com o objetivo de clinicar para as comunidades que ficavam longe de tudo e a mercê das doenças. 
        
Depois de formado, Karam trabalhou por dois anos na cidade de Tupandi(RS), até que resolveu conhecer esta região catarinense. Originalmente, seu destino era a cidade de Caçador, mas ele acabou optando por ir trabalhar em Arroio Trinta. Na cidade vizinha permaneceu por 16 anos, até que em 1959, decidiu mudar-se para Videira, cidade que ainda vive. Aos 90 anos de idade o médico ainda hoje se dedica à profissão que escolheu. “Eu só sei fazer isso e não vou parar. Estou sem fortuna, mas realizado. Diminui o ritmo, mas não viveria sem atender meus pacientes”, diz. 


O espírito pioneiro do médico teve seu preço. Depois de estudar e fazer exercícios práticos na faculdade, Karam se viu disposto no interior, onde a aparelhagem médica era escassa e as dificuldades tão grandes quanto as distâncias que ele às vezes precisava percorrer para atender os pacientes. “Era um tempo difícil. Não tinha hospitais, luz elétrica, condução ou estradas. Tinha que ter muita vontade para ser médico no interior”.


Karam atendia os chamados dos pacientes a  cavalo, muitas vezes na chuva e a noite. "Logo depois que cheguei em Arroio Trinta, que era um distrito de Videira, comprei um cavalo que foi meu companheiro por longos anos. Naquele tempo não se tinha alternativa. Ou era a cavalo, pelas picadas abertas no mato, ou a pé. Anos mais tarde, quando começaram a ser abertas estradas, passei a atender de jipe. Mas já fui para as casas dos pacientes de carona em caminhões de comerciantes, de barco, atravessando o rio XV de Novembro. Nunca me neguei a atender ninguém, porque sabia que precisavam de um médico”, recorda.


VIDEIRA SÓ TINHA DOIS MÉDICOS


A vinda do médico Francisco Karam  para Videira se deu em 1959, a convite do amigo, Valdemar Mozzaquatro. Aqui Karam atuava na área de medicina geral. "Naquele tempo os médicos eram poucos e tinham que atuar em praticamente todas as áreas".
         
Ele diz que só existia mais um médico no Hospital Divino Salvador, Pelágio Parigot de Souza, que foi prefeito do município. "Era muito trabalhoso. Por ser conhecido por praticamente toda a população, tinha que clinicar dia e noite", diz.
        
No início dos anos 60, não existia o INPS (hoje INSS), e sim Institutos para classes trabalhistas, que foram englobados posteriormente pela instituição governamental. O médico explica que com o advento do INPS, foram convidados mais médicos para vir a Videira. Com isso, a quantidade de médicos no município foi aumentando, fazendo que o município tenha profissionais de quase todas as especialidadese hospitais cada vez mais aparelhados.
  
MEMÓRIAS REGISTRADAS

Peculiaridades desta vida ele conta no seu segundo livro: “Memórias de um médico do Interior”, lançado em 1999 e que traz experiências vividas por ele e seus pacientes, nas décadas de 40 e 50. Karan é membro titular do Colégio Brasileiro de Radiologia. Também escreveu artigos médicos publicados nas décadas de 40 e 50 nas revistas "O Hospital" e “Revista Brasileira de Medicina”, ambas editadas no Rio de Janeiro. Ainda na década de 50, escreveu o livro "Pedra Branca", publicado em 1993, com o pseudônimo de Yussef Almanara. Tem produzido inúmeros artigos sobre vida e medicina, publicados em diversos jornais.


O médico recebeu várias homenagens em sua carreira como uma do consulado da Áustria, pelos 50 anos de atuação na medicina e o Jubilado de Ouro do Conselho Regional de Medicina. Ele também é Cidadão Emérito de Videira, desde 1989.

Um comentário:

  1. Minha mãe é dessa época.Está com 78 anos e lembra bem.Trabalhava no Hospital.Quantas histórias daquele tempo...

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