quarta-feira, 17 de março de 2010

PERSEVERANÇA

O SONHO DE AJUDAR FAZER JUSTIÇA
A história de 3 irmãos, filhos de um presidiário, que perseguiram o sonho de serem advogados


Silvia Palma
Para Jornal Folha de Videira
Edição:13/03/2010
Uma vida traçada por perdas, preconceitos, oportunidades e superação. Estes são os ingredientes principais da história de uma família de advogados de Videira. João, de 44 anos, Danilo, de 36 anos e Zeli do Prado de 32 anos, têm mais cinco irmãos, mas chamaram para si o desejo e a obrigação de sempre buscar a justiça.
O motivo para isso, eles encontraram dentro de casa.

Na década de 70, o pai se envolveu em uma briga e acabou cometendo um homicídio. Foi condenado há 16 anos de prisão e durante todo este período, João, o filho mais velho, acompanhava a mãe na busca dos direitos do pai. “Não tínhamos dinheiro para pagar um advogado, mas minha mãe, embora sem estudos, era muito esperta. Nos colocava embaixo do braço e íamos todos falar com o juiz. Com isso, ela conseguia benefícios como a remissão da pena, saída temporária, progressão do regime, e até a transferência de prisão, já que meu pai cumpriu pena em Videira e Chapecó”, relembra João.

O primeiro a se formar foi João, há 12 anos. Ele se orgulha em dizer que faz parte da segunda turma de Direito da Unoesc Videira. Na espera por realizar o sonho de advogar, trabalhou como lavador de carros e gerente financeiro de uma cooperativa. Quando o curso abriu na cidade, correu se inscrever para o vestibular. Não passou na primeira tentativa, mas no ano seguinte já estava freqüentando as aulas. Formado, tirou nota 9,0 considerada uma das notas mais altas do exame da OAB em Videira, na época. “Eu achava que meu pai tinha sido injustiçado por não ter dinheiro para pagar um advogado, por isso persegui tanto este sonho”, relembra.

Em 2001, depois de atuar como cortador de lenha, ajudante de pintor e policial militar, o irmão de João, Danilo do Prado, que também havia prestado o vestibular para a primeira turma de Direito de Videira e não havia passado, resolveu retomar o sonho. Entrou para a Universidade e se formou em 2006. Zeli que trabalhava no setor de produção da Perdigão,seguiu o mesmo caminho. Em 2008, também se tornou Bacharel em Direito. “Nosso desejo de atuar no direito tem muito a ver com a história do meu pai, mas não podemos deixar de destacar o incentivo constante de minha mãe. Ela comemorava nossas conquistas, fazia questão de assistir aos júris, que atuávamos”, diz Danilo, explicando que a mãe – Maria Inoema do Prado, morreu em 2007.

DIFICULDADES CONTINUARAM DEPOIS DE FORMADOS

Quem vê os irmãos João, Danilo e Zeli do Prado, bem instalados em um escritório no bairro Alvorada, não imagina o longo caminho que percorreram até se estabelecerem. João, o primeiro a se formar, conta que, por causa do preconceito, após formado não conseguia estágio em nenhum escritório. 

A oportunidade veio através do empresário e também advogado – Gilberto Zarpellon, que abriu as portas e mais tarde deixou o escritório inteiro para que João tomasse conta. “Sou eternamente grato ao Gilberto Zarpelon. Essa é uma história que me emociona, porque cresci em uma família que foi alvo constante de preconceito, seja pelo histórico da prisão do meu pai, ou pela pobreza, então quando alguém te estende a mão, você nunca esquece”, diz João com os olhos marejados.

PRECONCEITO CONTRA EX-DETENTOS DEVE SER REAVALIADO

Atitudes como a do empresário Gilberto Zarpellon também fazem parte do cotidiano da família Prado. João e Danilo que advogam e Zeli Bacharel em direito, trabalham, como eles gostam de dizer, com advocacia popular.Atuam nas áreas trabalhista, civil e criminal, onde levantam a bandeira de oportunizar a reinserção na sociedade e no mercado de trabalho, de ex- detentos. “Graças a Deus, minha mãe conheceu famílias de Videira que não tinham preconceito e deram emprego à ela, o que permitiu que nos criasse. O mesmo aconteceu com meu pai, quando acabou a pena e, é isso que gostaríamos de ver na sociedade atual”, conta Danilo, apontando as famílias Carboni, Fernandes, Zanin, Basso, Espig, Micheloto, Beins, Pasqual e Mioto, entre as que ajudaram os pais.

Os advogados explicam que um levantamento aponta que o índice de reincidência, para ex-presidiários sem oportunidade de ingressar no mercado de trabalho varia entre 60% a 70%. Para reverter essa situação, alguns Projetos de Lei que estabelecem incentivos fiscais para empresas que contratarem ex-presidiários, já estão em tramitação em alguns estados, no entanto, eles acreditam que a iniciativa privada pode se antecipar e contribuir para melhorar esse cenário. “Toda a sociedade perde com a falta de oportunidade ao ex-detento, porque ele vai reincidir e pode influenciar na conduta de seus filhos, por isso, acreditamos que as empresas podem fazer uma avaliação de cada caso, antes de simplesmente fechar as portas”.

LEGENDA FOTO: Irmãos defendem a bandeira da reinserção de ex-detentos na sociedade

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